segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Editorial - O novo antissemitismo e as velhas desculpas

Dieudonné inventou a nova saudação antissemita, a "quenelle"
Imagem: wikistrike.com
O ódio anti-judaico do século XX viu inúmeros disfarces, do preconceito econômico cultivado nos países de regimes marxistas contra o "cosmopolitismo" dos hebreus até o suposto preconceito racial do regime nacional-socialista, que misturava teorias da conspiração, militância anti-capitalista, e militância anti-marxista - o socialismo Hitlerista presumia ser capaz de superar a economia ocidental e o modelo soviético, que seriam os dois geridos pela "elite judaica mundial" - com teorias derivadas das ideias de Gobineau. A "mais atual" forma do antissemitismo é a esposada pelos movimentos que seguem o chamado islam político, que consegue misturar todos os movimentos anteriores, supostamente em prol da "causa palestina" e do que a esquerda tende a chamar de "fascismo" do Estado de Israel.

Apesar da grande profusão de "embalagens", algo que todas as "alergias sociais" ao povo judeu têm em comum é o impulso homicida. No fim do discurso, o antissemitismo sempre propõe exterminar um povo inteiro em nome do bem-estar pátrio, seja o processo fundamentado pela condição "burguesa" dos judeus - para Marx, o judaísmo deveria morrer com a burguesia; os judeus poloneses eram "a mais suja das raças" e todos os hebreus "iriam ter seu troco" pela "colaboração com os reacionários" -, ou pela "manipulação das finanças" que levaria as nações à miséria - conforme Hitler - ou, agora, pela opressão do povo palestino. O Hamas se oferece generosamente para fazer o serviço de matar até o último dos judeus - consta no Estatuto da organização terrorista que esse é a razão de ser da "resistência" -, tudo em nome de dar aos habitantes árabes do levante uma vida um pouco melhor. As desculpas para o crime são muito parecidas, como fica claro.

Os marxistas do antigo bloco oriental viam os judeus como agentes do capitalismo ocidental, e por isso começaram a perseguição antissemita em seus territórios (nos episódios conhecidos como os "processos de Praga", o "complô dos médicos" ou a perseguição oficial instituída por Gomulka) e deram ajuda militar a regimes antissemitas no oriente médio.  Os nazistas viam o judaísmo como responsável pela miséria do povo alemão. O islam político vê os judeus como os criadores da situação palestina. O que todos estes movimentos fazem, no fim do dia, é justificar o homicídio com a pobreza - mais uma vez, os líderes assumem o papel do governante semi-divino que irá julgar os ímpios e os puros, e criar um mundo sem pobreza. Essa convergência cognitiva é o que torna possível a aliança entre os diversos totalitarismos, que podem parecer auto-contraditórios em princípio, mas que possuem uma semelhança estrutural gritante.

Quando uma figura como Dieudonné surge, a proximidade entre todas as crias do antissemitismo moderno se torna mais clara que nunca. Dieudonné é o grande ícone do "novo" ódio, é o sujeito que fala em nome dos pobres e oprimidos do mundo, contra os malvados "imperialistas judeus", responsáveis pela penúria dos palestinos (cujos líderes são famosos por usar ajuda internacional para construir cassinos e mansões para si - o cassino de Jericó foi obra de Arafat, muitíssimo preocupado com o pão na mesa dos árabes necessitados). Como a cria de Kadafi - por sua vez, financiadora do partido neonazista austríaco de Jörg Haider -, Dieudonné se aproxima dos hitleristas, é literalmente apoiado pelas maiores figuras do novo fascismo europeu. O sujeito até mesmo inventou uma variação da saudação nazista, a "quenelle", adotada pela militância antissemita. Só há um detalhe: Dieudonné não é de família europeia. O sujeito é preto - preto mesmo, seria facilmente vítima de piadas com melancias nos Estados Unidos de algumas décadas atrás, seria chamado de "crioulo", "tiziu" e "macaco" no Brasil  do período anterior às leis que proibiram o antissemitismo e o racismo. Mas esse cara se tornou o retrato do preconceito anti-judeu do novo século, e, em grande medida, mostrou que o ódio aos judeus nada tem a ver com raça.

A doce ironia que atormenta nazistas e comunistas é Dieudonné. Por mais que os movimentos socialistas se odeiem, vejam uns aos outros como a encarnação do mal, criaturas como Dieudonné - e outros da "nova direita europeia", como Dugin - personificam a união dos gêmeos siameses totalitários. Quando um negro faz a saudação nazista ao lado de um nacional-socialista branco e de um marxista "defensor dos pobres palestinos", cada um destes movimentos pode até conseguir influência política temporariamente, mas decreta sua morte cerebral e mesmo sua inviabilidade futura. Um movimento que defende seu oposto está fadado a render-se a ele, em particular se o "nêmesis" for mais coeso, rico e tiver militância mais numerosa. Dieudonné não deve ser levado a sério, nem Dugin, nem aberrações como os partidos PSOL e PSTU do Brasil. Cada um desses "fenômenos" deve ser estudado sob uma perspectiva científica, como manifestações tardias dos impulsos homicidas originais que fundaram tanto o nacional-socialismo quanto o socialismo marxista. Dieudonné e colegas são "curiosidades" históricas, que anunciam a nova página do grande preconceito - já está a contabilizar mais de um século de existência. O Hamas, o Hezbollah e o Estado Islâmico são novos, mas seus esqueletos são velhos. O ódio que serve de combustível para os vídeos da "resistência palestina" é o mesmo espalhado por Al-Husseini, e o mesmo que levou Stalin a assassinar a fina flor da intelectualidade judaica na União Soviética

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Leia mais sobre a ideologia conhecida como "Islam político"


2 comentários :

  1. "...ou pela "manipulação das finanças" que levaria as nações à miséria - conforme Hitler..."
    Texto instigante. A propósito dele sugerimos: http://saudepublicada.sul21.com.br/2015/12/15/mein-kampf-liberar-ou-proibir-a-leitura/

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    1. Muito obrigado! Novidades todos os dias aqui no Blog e na nossa página www.facebook.com/diariodainsurgencia

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