terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Crime e Castigo - obra de Fiódor Dostoiévski, adaptada pela BBC para a televisão

Dostoiévski foi possivelmente o maior romancista que a História já viu - talvez dispute o título apenas com Liev Tolstói, outro dos grandes nomes das letras russas. O país de Lenin produziu as maiores tragédias que a humanidade já viu em nome dos sonhos mais belos, e deu à luz as jóias mais preciosas da tradução em livros dos dramas imortais - Crime e Castigo é a inscrição eterna da desilusão em nome da promessa de paraíso futuro. O romance de Dostoiévski narra a vida do jovem Raskólnikov, um revolucionário, admirador sincero da rebelião francesa e da ideia de um futuro melhor, a ser construído através da violência. Raskólnikov encontra-se em estado de pobreza e desespero, mas é um jovem inteligente e capaz - a injustiça de sua condição presente o faz questionar: "por que eu deveria viver assim? Eu sou um dos que irão construir o futuro da Humanidade! Eu sou como os maiores líderes jacobinos, ou como Alexandre, o Grande, que mudou a História, ou como Napoleão Bonaparte... por que os valores dos seres humanos medíocres deveriam ser válidos para mim?".
Fiódor Mikháilovich Dostoiévski
Imagem: Wikipedia

O auto-questionamento de Raskólnikov é o mais fiel retrato da mentalidade revolucionária que um autor jamais conseguiu pintar, em toda a literatura. Dostoiévski - ele mesmo foi um revolucionário socialista, que foi preso em nome da causa - entendeu o mecanismo psíquico por trás do raciocínio de homens como Nikolai Chernichevski: se deve haver revolução, não há valor absoluto. Para a revolução e o porvir sob o paraíso socialista, não há freio moral - "quanto pior, melhor", a brutalidade e o sangue serão os parteiros da justiça vindoura. Dostoiévski, que viveu e lutou como socialista, sofreu as esperanças de todos os que já foram iludidos pelas belas palavras "em nome da Nova Humanidade". Ele compreendeu perfeitamente o tamanho da maldade, da perversão e do cinismo por trás da auto-ilusão do "movimento". Tudo o que levou ao vale de lágrimas das Guerras Camponesas, sob o estandarte do "Novo Daniel" chamado Thomas Münzer, tudo o que deu origem ao morticínio da França jacobina está no simples mecanismo: "apenas preciso cometer este pequeno crime, este pequeno gesto de violência - afinal, o que é esta pessoa que devo matar, se não é um 'piolho', um tímido empecilho? - e tudo será melhor".

Dostoiévski mostra, em Crime e Castigo, que a justiça divina é perfeita, que o amor e a misericórdia do Criador, bem como a caridade - mais belo fruto do livre-arbítrio, dado como presente à criação -, são os únicos fundamentos do paraíso, que não é deste mundo. O sofrimento de Raskólnikov e a maldade que o jovem sonhador joga sobre si mesmo, que lhe corta a alma em mil pedaços e que transforma o jovem em um vestígio de homem são grave aviso às novas gerações nascidas na Rússia e em todos os países: não é possível criar bondade através da perversão, não é possível criar justiça através da tirania - os que tentam "o caminho terrestre para o éden" encontrarão apenas dor e amargura. No fim, não importa o quanto o soldado da revolução tente mentir para si mesmo: "todo joelho se dobrará - os humilhados serão exaltados, e os exaltados serão humilhados". A obra do homem é pó - a obra de Deus é infalível e implacável. Há justiça, e ela encontrará o coração deformado, não importa o quanto o mau tente se convencer de sua bondade.

O filme a seguir, em duas partes, é uma belíssima adaptação do romance de Dostoiévski para a televisão. Recomendamos o longa-metragem e o livro original para todos:



4 comentários :

  1. https://www.youtube.com/watch?v=LTLwOaTQzVs&list=PLPbSrKJ8RAjE01LO4RHXrd4dRB9ccHsVK

    Essa russa aí também é beleza.

    Nenhuma das duas séries é tão boa assim, mas o livro é tão impactante que vê-las depois de tê-lo lido, preenchendo-as com as memórias da leitura, é de -- como diz o professor - arrancar lágrimas de estátua.

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    1. É exatamente essa sensação - eu acho que as trilhas sonoras contribuem muito. Na que está nessa postagem, a representação da heroína me pareceu perfeita, e você entende do que o Olavo diz quando ele comenta que Dostoievski quis representar Maria através dela - realmente, é de partir o coração

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    2. sabe quem fez a trilha sonora e onde posso obtê-la?

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    3. Guilherme, infelizmente, não sei. Mas é uma trilha sonora muito bonita. Se estiver procurando uma boa edição de Crime e Castigo, recomendo a da L&PM Pocket.

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