George Orwell foi um dos grandes escritores do século XX, sem sombra de dúvida. Foi um socialista durante boa parte da vida, e começou a questionar a ideologia soviética após seus anos de militância no Partido Operário de Unificação Marxista - ligado à Quarta Internacional. Na guerra civil espanhola, viu seus colegas trotskistas serem mortos pela polícia política stalinista, que operava na espanha contra os próprios comunistas. A experiência provocou trauma tão grande em Orwell que o autor passou a tecer críticas até mesmo contra Leon Trotsky - em seu livro "A Revolução dos Bichos", o autor britânico retrata Leon Davidovich como um "porco esnobe". A visão do que efetivamente faz a militância marxista levou o escritor a distanciar-se cada vez mais do chamado socialismo científico, chegando ao ponto de aproximar-se do anarquismo, e de ser considerado um dos grandes nomes da literatura anticomunista.
George Orwell - nascido Eric Arthur Blair, autor do romance "1984". Imagem: Sexenio |
Orwell - nascido Eric Arthur Blair - é um dos grandes da esquerda, de quando a esquerda ainda possuía heroísmo em seus quadros agora afundados na corrupção e na pusilanimidade, que fariam Lenin fuzilar mais alguns milhares por puro desgosto. Como Mário Ferreira dos Santos, Orwell tem muito a ensinar aos conservadores, e a mensagem mais importante que ele tem a passar é muito similar à repetida ad nauseam por Russell Kirk e Eric Voegelin: um Estado com poder absoluto irá se corromper absolutamente. Um Estado com poder controlado poderá cometer abusos, inquestionavelmente - um estado com poder absoluto é um convite ao genocídio. Orwell, quase imperceptivelmente, fez um retrato perfeito da tragédia daquilo que Voegelin e Kirk chamam de "ideologias": promessas inalcançáveis de felicidade e abundância terrestre, que sempre e necessariamente resultam no oposto do alardeado. A ideologia, como mostrará o romancista, não é apenas a "fé metastática" do futuro paradisíaco - é a proibição absoluta de questionamento, a deformação linguística "em nome do ideal" e mesmo o ódio fanático, assassino, por vezes, contra até mesmo a menor dúvida a respeito da infalibilidade do éden vindouro.
O romance que inspirou o filme a seguir não é apenas um tratado sobre política, liberdade e ideologia, em linguagem clara e quase fotográfica - é uma descrição histórica do regime mais assassino que a humanidade já viu. Ler Orwell não é apenas receber um aviso de quem conheceu a ideologia totalitária por dentro: é testemunhar a dor e o terror vivido por um terço da humanidade, durante décadas - em algumas nações, o flagelo continua a ceifar vidas, até hoje. 1984 é um registro dos crimes cometidos contra a humanidade, em nome de "um futuro melhor", que nunca chegou, e que cobrou o preço por sua fundação jamais feita em sangue e lágrimas. Depois de ler sobre a Grande Fome de Mao Zedong, sobre os campos de trabalhos forçados na Coreia, sobre as ordens dadas por Lenin e Trotsky para erguer o GULAG e até mesmo jogar idosos e crianças no trabalho escravo, como descreve Dmitri Volkogonov, General-Coronel do Exército Vermelho, pode-se ver que Orwell estava certo. 1984 é uma carta à humanidade, escrita em nome das vítimas do totalitarismo. É um pedido para que os povos do mundo nunca mais deixem-se seduzir pelas promessas de uma "sociedade perfeita" em troca de poder e barbárie - os que prometem o paraíso nunca o entregam, mas guardam com zelo o poder para si.
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