domingo, 14 de maio de 2017

Editorial - Crise na Venezuela e repetição da História

Desde os últimos anos do governo de Hugo Chávez, a Venezuela tem passado por uma crise sem precedentes de abastecimento, que já leva a população à fome, a confrontos violentos com as forças leais ao governo e a pior onda de crimes registrada em toda a América Latina. A fome generalizada e a falta até mesmo dos recursos mais básicos era inédita até mesmo para padrõs do continente - em nenhum outro momento, ao menos nos grandes centros urbanos, a maior parte da população foi forçada a vasculhar o lixo ou a matar animais como cães para a obtenção de alimentos. Esse fenômeno, por outro lado, aconteceu diversas vezes ao longo do século XX - de forma notória e com violência inacreditável, nos regimes socialistas, como o soviético e o chinês.

Os venezuelanos são forçados a comer lixo ou cães da mesma forma que os ucranianos foram, na década de 1930. As fotos da fome, nas grandes cidades do país do leste europeu, chocaram o mundo - pessoas famintas morrendo de inanição, jogadas nos trilhos de trens ou nas calçadas de alguns dos maiores centros da "pequena Rússia", levaram ao menos algumas vozes a denunciarem o crime do socialismo. O genocídio cometido pelo governo soviético contra o povo ucraniano - parte da campanha pela coletivização da agricultura - tomou as vidas de sete milhões de pessoas. O epísódio, conhecido como "Holodomor" ("assassinato pela fome"), até hoje é negado pelo governo russo. O genocídio (pela fome) chinês ceifou mais de 60 milhões de vidas - e foi acompanhado por violência estatal sem precedentes, no campo e nas cidades, como bem documentam os autores Frank Dikötter (em A Grande Fome de Mao) e Jung Chang (em Mao: a Hisória Desconhecida).

Karl Marx dizia que a História se repete, uma vez como tragédia, outra como comédia. No caso dos regimes marxistas, a regra é a repetição como tragédia: as mesmas cenas de miséria generalizada e brutalidade selvagem ocorrem, sem parar, em cada "Estado dos trabalhadores". Chávez se declarava "trotskista" - é fácil entender que o líder se referia ao período da vida de Trotsky em que o comandante militar bolchevista escreveu Terrorismo e Comunismo. Se a violência e a miséria sistemáticas, se até mesmo os trabalhos forçados tiverem de ser utilizados pelo regime marxista, assim será. A Venezuela não repetiu apenas a fome soviética: repetiu a instituição da katorga. A Chávez, Trotsky diria: "Kto ne rabotaet, tot ne est". "Quem não trabalha, não come", foi o que Trotsky escreveu, como justificativa moral para seu pedido de criação dos primeiros campos de concentração da Rússia Soviética, ainda durante os anos da guerra civil. A miséria vista na Venezuela não é original - é mais uma das tragédias de Marx.

Para o público internacional, restam as orações, pedindo que os venezuelanos tenham um futuro melhor. O regime se inspira nos piores genocídios e na mais completa destruição econômica já vista - é a ideia que, por definição e desde sua criação, não tem a capacidade de "dar certo". A única medida de excelência conhecida pelos regimes marxistas é o poder do Estado totalitário - enquanto os venezuelanos estiverem curvados, sob os trabalhos forçados, sob a GNB e sob a devastação, o sistema chavista estará feliz. Yuri Bezmenov comparava o sistema marxista a um parasita, que destrói completamente a nação, corroendo sua economia, sua moralidade, sua religião e todos os aspectos da vida de seus súditos. É um parasita que já levou muitos outros pacientes à morte, e que só com muita sorte pode ser removido.

Veja na íntegra - reportagem da agência Associated Press sobre a fome na venezuela:


Mais sobre o tema - reportagem sobre a fome na venezuela:



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